A gentil realidade do desastre

Aquilo que nos esforçamos tanto para evitar que aconteça o pior já é em si mesmo o pior acontecendo. Inferno não é morrer. É viver com medo da morte. Que sempre vem. O fim do medo não vem da coragem. Vem do encontro com o que se teme. Qualquer futuro podes suportar. Dorian tinha medo de decepcionar as pessoas e suas expectativas. Quando era capaz de atingir critérios e passar desapercebido, sentia-se vazio. – É só cansaço – ele disse para Lua. A lua respondeu brilhando. O brilho nem era seu. Mas se o sol a concedeu, faria o que bem entendesse com o brilho. Dorian descobriu um segredo proibido: O sol não era dono do brilho. Os planetas eram. O que quer que recebesse era. Pertencia a quem olhar. A quem tocar. Não tinha um só dono. Era de tudo que tocasse. Meu avô morreu há uns oito anos. O sol que foi dele existe em outro tempo agora. – Só preciso tentar – ele falou. Mas quem disse foram os outros. Repetia as palavras que foram violentamente gravadas. Há uma certa cepa de violência que passa de pessoa para pessoa. O que é simples, qualquer um consegue ver, todo mundo tenta, ninguém consegue. Quando pega, o individuo pratica a violência a si mesmo como forma de se proteger da violência exterior. Da potencial violência exterior. A que ainda não aconteceu e ainda não se sabe como dói. De mim, meus medos que se concretizaram foram os mais generosos. Sofre-se mais e por mais tempo do medo do que quando o medo se torna real. A realidade é mais tranquila do que qualquer imaginação de desastre. O chão alguma vez cedeu ao seus pés?

Resistir é.

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